Sim, uma revolução… Uma insurreição generalizada da rua contra o déspota tunisino Ben Ali, presidente desde do “golpe de estado constitucional” de 1987. Uma revolta contra um estado policial que censura, que oprime, que amordaça o seu povo… Mais uma na história dos Homens? Não, esta sublevação é bem diferente. Conduzida pelo poder mobilizador e libertário das novas tecnologias de informação, trata-se de uma revolução via internet e redes sociais (Facebook e Twitter sobretudo). Segundo o jornalista e escritor oposicionista Taoufik Ben Brick, recentemente libertado depois de seis meses de prisão (numa evidente tentativa de silenciamento), trata-se da primeira revolução bem sucedida via ciberespaço. As eleições presidenciais iranianas de 2009 foram sem dúvida um primeiro ensaio, mas aí o poder central conseguira, com um sucesso relativo, abafar o rumor da rua.
Ben Ali abandonou ontem (14 de Janeiro) o seu país para refugiar-se na Arábia Saudita. A revolução triunfou. A bem dizer, triunfará realmente quando forem agendadas eleições verdadeiramente democráticas.
E a França nisto tudo? Sim, a França, o antigo colonizador que mantém desde a independência (1956) relações muito estreitas com a Tunísia. Bem, a França, ou melhor dizendo Nicolas Sarkozy e os seus acólitos, remeteu-se ao silêncio, um silêncio ensurdecedor. Silenciosa até hoje… Até aqui o comprometimento com o regime policial tunisino era forçoso, os interesses económicos e estratégicos assegurados. Mas porque haveríamos de ficar surpreendido após as duras críticas feitas ao regime chinês durante a visita de estado de Hu Jintao a Paris, no mês de Novembro do ano passado?! Ben Ali no exílio, o silêncio já não se justifica e o apoio à luta do povo pela democracia e pelas liberdades é assim possível. Aí está, o comunicado do Palácio do Eliseu, residência de Nicolas Sarkozy, acaba de ser divulgado!
Transcrevo aqui parte do artigo do jornal Le Monde, tendo em conta que neste momento o comunicado encontra-se indisponível no endereço electrónico da presidência francesa:
«A França tomou “as disposições necessárias para que os movimentos financeiros suspeitos referentes a fundos tunisinos em França sejam bloqueados administrativamente”, indicou, no sábado, 15 de Janeiro, o presidente Nicolas Sarkozy num comunicado. […]
O ministro do Orçamento, François Baroin, referiu ainda que foram dadas instruções à Tracfin (organismo encarregue de lutar contras o tráfico de capitais) a fim de informar os bancos para que estes “exerçam uma vigilância acrescida sobre todos os movimentos financeiros” que possam respeitar “os fundos da família e dos próximos do antigo presidente Ben Ali”. “Os estabelecimentos deverão informar Tracfin que poderá assim bloquear as operações financeiras e, assim, alertar as instâncias judiciais” acrescentou, referrindo também que se trata de uma medida preventiva. “É possível, provável que haja fundos aqui como um pouco por todo o mundo”, disse François Baroin.
O comunicado do Palácio do Eliseu indica igualmente que Paris “concede um apoio determinado” à “vontade de democracia” do povo tunisino. Esta declaração é a primeira posição clara em prol do movimento de contestação na Tunísia. “A política da França assenta em dois princípios constantes: a não-ingerência nos assuntos internos de um Estado soberano, o apoio à democracia e à liberdade” explicou Nicolas Sarkozy.»[1]
Patético, não?!
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