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2012/02/08

Jamor, 1969

        A Briosa no Jamor, 43 anos depois! É tempo de recordar essa mítica final na história da Associação Académica de Coimbra; muito mais que um simples jogo de futebol, um momento decisivo na Crise Académica de 1969. Momentos de grande coragem, momentos de contestação, de oposição ao regime e à opressão por ele organizada...


Final da Taça de Portugal, Sport Lisboa e Benfica - Associação Académica de Coimbra,
Estádio Nacional (Lisboa), 22 de Junho de 1969.

Associação Académica de Coimbra, 1969.

A contestação ao regime em pleno Estádio Nacional; a Crise Académica de 1969.

A contestação estudantil na actual Praça D. Dinis, dias antes da grande final.

Um excerto do documentário "Futebol de Causas"; a final de 1969 e a Crise Académica...

2011/02/19

Alexandre e o nó górdio

Jean –Simon Berthélemy,  Alexandre cortando o nó górdio, 1767 (École des Beaux-Arts, Paris, França)

Como referira num texto anterior[1], a mitologia, assim como a tradição escrita grega, são o testemunho da representação do mundo antigo através de um vasto conjunto de textos como de representações pictóricas. Neste âmbito, e com a noção sempre presente de que a História se move continuamente para lá dos limiares dos tempos, a lenda que decidimos abordar aqui é provavelmente uma das mais actuais da tradição grega: “O nó górdio”. Vejamos…
Ásia Menor (actual Turquia). Século VIII a.C.
O reino da Frígia (no centro da Turquia) enfrenta um problema difícil de resolver: o rei não tem herdeiro e a sua sucessão está em perigo. Um oráculo anuncia então que o novo rei entraria no templo de Zeus, na capital do reino, conduzindo uma carroça. Os poucos que conheciam o oráculo estavam excluídos da competição: exigia-se a inocência da alma.
Um dia, Górdio, um agricultor da Frígia, vê uma águia pousar-se na sua charrua e aí permanecer todo o dia. Entendendo isto como um sinal de Zeus, cuja águia era um dos símbolos, o camponês decide partir para a cidade a fim de honrar Zeus com uma oferenda a Zeus. Górdio penetra no templo, na sua carroça. É de seguida aclamado rei… um rei da inocência. Em memória de tão improvável, mas não menos glorioso, dia, Górdio decide perpetuar o momento através de um símbolo digno da sua humilde condição de lavrador e artesão, mas também merecedor da nobreza do seu saber, do trabalho das suas mãos, da forma dedicada como sempre se entregou aos ofícios da terra e como sempre trabalhou os frutos de uma Natureza agreste mas compensadora. Górdio ata o timão da sua carroça ao altar de Zeus com um elaborado nó. Este nó, fruto da sua arte, do seu saber, no qual passa largas horas do seu tempo, é a representação da sua própria existência: cuidada, impregnada do seu gosto pelo trabalho aprumado e do vagar que este exige; é o tempo da sua vida... Este entrelaçar combina criatividade e fineza, engenho e simplicidade, em suma celebra a aliança, porque um nó é antes de mais um anel, um elo, entre a terra e o Homem. Mas ainda estava para vir aquele que seria capaz de desfazer o produto de tanta habilidade!
Para além desta lenda não nos chegou muito sobre o reino de Górdio. Mais famoso viria a ser o seu filho, Midas, a quem a mitologia atribuía a dom de transformar tudo o que tocava em ouro. O frígio Midas reinava do alto do seu palácio na cidade de Gordion, uma herança do próprio pai.
Um novo oráculo vem consagrar o inextricável nó de Górdio na tradição grega: quem conseguisse desatá-lo tornar-se-ia senhor de toda a Ásia. Muitos o contemplaram, muitos tentarem desenvencilhar o seu mistério, muitos quiseram entender a sua lógica, a coerência que o constituía. Mas “a César o que é de César”[2], só Górdio conhecia o segredo do seu nó, fora fruto da sua singular criatividade, do seu peculiar talento, só ele saberia desenredá-lo. Passaram séculos sem que o labiríntico nó seja desembaraçado, até que surge, embalado nas suas conquistas, Alexandre III de Macedónio, dito o Grande. A Ásia Menor sofre as razias das invasões macedónias e acaba quase integralmente sob o jugo de Alexandre. Durante a ocupação da Frígia, Alexandre ouve falar do oráculo e, numa sobranceira afirmação de poder, decide ser ele a resolver o que muitos, durante séculos, não conseguiram e assim concretizar a profecia. Já no templo de Zeus, e após uma curta inspecção ao complexo lavor de Górdio, Alexandre corta o nó com a sua espada. À sua volta, um silêncio ensurdecedor faz estremecer toda a Humanidade, todo o atempado e cuidado trabalho do Homem na sua luta constante para se extrair da sua animalidade original. Este corte transversal, frio e calculista, funda o mundo moderno, cria o «mundo da simplificação apressada; da experiência que destrói o seu objecto; da acção eficaz em detrimento do sentido; da mentira; dos elos quebrados»[3]. É este o mundo moderno, refém das imagens veiculadas pelos mass media, de “postais” adoptados pela esmagadora maioria da população, do materialismo das sociedades modernas. Todo o simbolismo do gesto de Alexandre Magno ilustra as preocupações dos nossos dias, isto é, a rejeição absoluta da complexidade. Desfazendo todo o mistério do nó górdio com um simples golpe de espada, cai todo o simbolismo de um mundo complexo, mas real, para dar lugar a um mundo desprovido de segredos e de sentido. É neste mundo que existimos. É neste mundo que se encontram as nossas escolas…
Na última década, a educação tem sido pensada à sombra deste atroz golpe de espada, à luz de processos meramente simplificadores e desprovidos de coerência, à luz exclusiva de execuções orçamentais. Estamos a falar de educação, do presente e sobretudo do futuro do nosso país. Exigências reduzidas; avaliações descaracterizadas, simplistas, sem qualquer pretensão à excelência; objectivos cada vez mais básicos; aprendizagens cada vez mais pobres: são estes os resultados do trilho delineado pela burocracia para a educação. Os exemplos práticos são inúmeros, desde as ciências humanas passando pelas ciências exactas até às áreas das expressões. Empobrecimento generalizado… Exames nacionais que, de ano para ano, se tornam cada vez mais acessíveis, não porque os alunos estão melhor preparados mas sim porque a exigência se vai desvanecendo. O que dizer do manancial de obras que era, há alguns anos, impreterível dominar no âmbito do exame nacional de Língua Portuguesa? O que dizer dos exames que exigiam análise, interpretação, fundamentação, espírito crítico? O que temos hoje? Plano nacional de leitura? Citando o seu preâmbulo: «O Plano Nacional de Leitura tem como objectivo central elevar os níveis de literacia dos portugueses e colocar o país a par dos nossos parceiros europeus.» Como, se os exames da língua materna já não exigem o domínio (apetecia-me escrever “a leitura prévia”) de obras de referência da nossa literatura? Se a avaliação não exige, ou exige muito pouco, porque razão insistir? Como esperar que depois os nossos jovens sejam o reflexo de uma lógica distinta?! Repito, porque razão insistir? Bem… porque é o nosso dever enquanto educadores, porque são os nossos próprios filhos, os nossos próprios netos, porque são o devir desta nação. Creio que é um motivo suficiente…
Mas se as directivas educativas emanam das esferas do poder, isso não exonera totalmente o corpo docente; parte da lenta e progressiva degradação do sistema educativo do nosso país é também da sua responsabilidade. Afinal, a exigência de cada docente quanto aos seus alunos não é quantificável por decreto! Está também nas nossas mãos. Recuperando o título da notável obra do pensador personalista, Denis de Rougemont, «pensar com as mãos» …


[1] Ver «O leito de Procrusto», 05/11/2010.
[2] Mt., 22, 21.
[3] Rougemont, Denis de, Doctrine Fabuleuse, Neuchâtel, Ides et Calendes, 1947, p. 96.

Alexandre et le noeud gordien


Jean –Simon BerthélemyAlexandre tranchant le nœud gordien, 1767 (École des Beaux-Arts, Paris, France)


J’affirmai dans un article précédent[1] que la mythologie, tout comme la tradition grecque, sont, à travers un vaste ensemble de textes et de représentations picturales, le témoin d’un monde antique. Ainsi, et avec la notion que l’Histoire est mouvante, la légende que j’ai décidé de traiter ici est certainement l’une des plus actuelles: “Le nœud gordien”. Voyons plutôt…
Asie Mineure (actuelle Turquie). VIIIème siècle av. J.-C.
Le royaume de Phrygie (au centre de la Turquie) est confronté à un problème difficile à résoudre : le roi n’a pas engendré d’héritiers et sa succession est en danger. Un oracle annonça alors que le nouveau monarque pénétrerai un jour au grand galop, sur son char, dans le temple de Zeus de la capitale. Ceux qui furent avisés de la prédiction étaient exclus: l’innocence de l’âme était requise. 
Un jour, Gordius, un paysan de Phrygie, voit un aigle se poser sur le joug de sa charrue et y demeurer toute la journée. Interprétant cela comme un signe de Zeus dont l’aigle était un des attributs, l’humble laboureur décide d’honorer le dieu des dieux d’une offrande dans le temple de la capitale. Ainsi, Gordius entre dans la demeure de Zeus, debout sur son char. Il est immédiatement acclamé roi des Phrygiens… un roi de l’innocence. En mémoire de ce si peu probable, mais non moins glorieux couronnement, Gordius veut perpétuer l’instant. Le perpétuer à travers un symbole, à la fois digne de son humble condition de laboureur et d’artisan, mais aussi de toute la noblesse de son savoir, du labeur de ses mains, de la façon dont il a toujours travaillé la terre et façonné les fruits d’une Nature difficile mais généreuse. Gordius lie le timon de son char à l’autel de Zeus avec un nœud très élaboré. Une corde dont les bouts s’entrelacent harmonieusement en constituant le plus parfait des nœuds, la somme de tous ses savoirs, de tout son art. Ce nœud, sur lequel il s’incline plusieurs heures, c’est l’image de sa propre existence: méticuleuse, empreinte de son amour pour les choses bien faites. C’est le temps de sa vie, comme un long fleuve tranquille. Ces croisements infinis sont le symbole même de sa créativité et de la justesse de ses gestes, de son ingéniosité et de sa simplicité, en somme la célébration d’une alliance, car un nœud c’est avant tout un lien, une connexion, comme celle qui relie la terre aux hommes. N’était pas encore né celui qui un jour serait capable de défaire le produit de tant d’habileté!
Au-delà de cette légende, nous ne savons pas grand-chose sur le règne de Gordius. Plus célèbre deviendra son fils, Midas, a qui la mythologie grecque attribuait le don de changer tout ce qu’il touchait en or. Le phrygien Midas gouverna du haut de son trône dans sa capitale Gordion, un héritage de son père.
Un nouvel oracle vient consacrer le nœud alambiqué de Gordius dans la tradition grecque: qui saurait le dénouer deviendrait le maître de l’Asie. Beaucoup l’ont admiré, beaucoup ont tenté de le comprendre pour mieux le défaire, d’entrevoir son mystère, de résoudre l’énigme qu’il enfermait. Mais “rendons à César ce qui est à César” [2], seul Gordius connaissait le secret de son nœud, ce produit de son talent et de sa féconde imagination, seul lui serait capable de le délier. Les siècles passèrent sans que ce labyrinthe dévoile sa sortie, jusqu’à ce que n’apparaisse Alexandre III de Macédoine, dit Le Grand. L’Asie Mineure est la proie des razzias macédoniennes e finit presque intégralement sous son emprise. Durant l’occupation de la Phrygie, Alexandre entend parler de cet oracle et décide de résoudre l’énigme devant laquelle tous avaient échoué. Dans le temple de Zeus, après une courte observation du labeur de Gordius, Alexandre tranche le nœud de son épée. Autour de lui, un silence assourdissant fait trembler toute l’Humanité, fait frémir tout l’ardu travail de l’Homme pour s’extraire de son animalité originelle. Ce coup d’épée transversal, froid et calculé, fonde le monde moderne, crée un «monde de la simplification hâtive; de l’expérience qui détruit son objet; de l’action efficace au détriment du sens; de la tricherie; de la rupture des liens» [3]. Voici le monde moderne, otage de toutes ces images véhiculées par les médias, de ces “images d’Épinal” adoptés par presque tous, du matérialisme des sociétés modernes. Le geste d’Alexandre illustre nos préoccupations d’aujourd’hui, c'est-à-dire le rejet de la complexité. En défaisant si simplement le mystère du nœud gordien, c’est toute la symbolique d’un monde composé et réel qui s’écroule pour faire place à un monde dépourvu de secrets et de sens. C’est notre monde, celui où se trouvent nos écoles[4]
Durant dernière décennie, l’éducation a été orientée par l’ombre de cet atroce coup d’épée, guidée par des processus simplificateurs et dépourvus de cohérence en suivant le chemin tracé par la tyrannie budgétaire. C’est de l’éducation qu’il est ici question, du présent et surtout du futur de notre pays. Exigences réduites; évaluations décaractérisées, simplistes, sans aucune ambition d’excellence; objectifs de plus en plus réducteurs;  apprentissages appauvris: ce sont les résultats des politiques éducatives tracées par la bureaucratie. Dans la pratique, les exemples sont nombreux, que ce soit dans les sciences humaines, dans les sciences exactes ou mêmes dans les matières plus enclines aux aptitudes manuelles. Appauvrissement généralisé… Examens de fin de secondaire (l’équivalent du bac, au Portugal) qui, d’années en années, deviennent de plus en plus accessibles, pas par la meilleure préparation des élèves, mais par ce que l’on sollicite un niveau de moins en moins élevé. Que dire des œuvres qu’il fallait, il y a quelques années, maîtriser en vue de l’examen national de langue portugaise? Que dire des sujets qui requéraient des capacités d’analyse, d’interprétation, de démonstration, d’esprit critique? Je cite le préambule du Plan National de Lecture (projet du Ministère de l’Éducation mis en place depuis 2007): «Le Plan National de Lecture a pour objectif central élever le degré d’alphabétisme des Portugais et permettre au pays de se hisser au niveau de ses partenaires européens.» Mais comment y arriver si les examens de langue portugaise n’exige plus la maîtrise (j’ai même envie d’écrire la lecture) des œuvres de référence de notre littérature? En fait, ce n’est peut-être qu’une question de statistique, de chiffres à manipuler, histoire de bien paraitre… Si l’évaluation n’exige pas, ou très peu, pourquoi insister? Comment espérer que nos élèves soit le reflet d’une logique différente? Je le répète, pourquoi insister? Et bien, parce que c’est notre devoir en tant qu’éducateurs, parce que se sont nos propres fils, petits-fils, parce qu’ils sont l’avenir de la nation. Voilà des raisons bien suffisantes je crois…
Mais si les directives de l’éducation émanent des sphères du pouvoir, cela n’exonère pas pour autant les professeurs; une partie de cette lente dégradation du système éducatif nous incombe aussi. Il n’est pas encore possible de quantifier par décret l’exigence de chaque enseignant vis-à-vis de ses propres élèves! L’avenir est aussi entre nos mains. Je récupère le titre de l’excellent ouvrage du penseur personnaliste, Denis de Rougemont,  pour conclure qu’il faut «penser avec les mains»…

[1] Voir «Le lit de Procuste», 05/11/2010.
[2] Mt., 22, 21.
[3] Rougemont, Denis de, Doctrine Fabuleuse, Neuchâtel, Ides et Calendes, 1947, p. 96
[4] Je me réfère évidemment au monde scolaire portugais, bien que la tendance soit générale et que certaines considérations puissent s’appliquer également aux écoles françaises.

2011/01/18

L’année 2010 – O ano 2010

L’année 2010 vue par les cartoonistes (sélection du Courrier International)
O ano de 2010 visto pelos cartonistas (selecção do Courrier International)

01 - Matson, St Louis Post (EUA)
14/01/2010

02 – Bertrams, Het Parool  (HOL)
26/01/2010

03 – Burki, 24 Heures (SUI)
16/03/2010

04 – Bleibel, Al Mustaqbal (LIB)
16/04/2010

05 – Stephff
18/05/2010

06 – Stavro
02/06/2010

07 – Kichka
12/07/2010

08 – Haddad
23/08/2010
"Bouchehr. Au secours!"
"Bouchehr. Socorro!"

09 – Pismestrovic
21/09/2010

10 – Stephff
13/10/2010

11 – Schrank, The Independent (GB)
23/11/2010

12 – Zanetti
07/12/2010

Révolution en Tunisie (suite) - Revolução na Tunísia (II)

Hic, El Watan (16/01/2011)
"Magrebe - O regime Ben Ali cai"

2011/01/16

Revolução na Tunísia (I)


Sim, uma revolução… Uma insurreição generalizada da rua contra o déspota tunisino Ben Ali, presidente desde do “golpe de estado constitucional” de 1987. Uma revolta contra um estado policial que censura, que oprime, que amordaça o seu povo… Mais uma na história dos Homens? Não, esta sublevação é bem diferente. Conduzida pelo poder mobilizador e libertário das novas tecnologias de informação, trata-se de uma revolução via internet e redes sociais (Facebook e Twitter sobretudo). Segundo o jornalista e escritor oposicionista Taoufik Ben Brick, recentemente libertado depois de seis meses de prisão (numa evidente tentativa de silenciamento), trata-se da primeira revolução bem sucedida via ciberespaço. As eleições presidenciais iranianas de 2009 foram sem dúvida um primeiro ensaio, mas aí o poder central conseguira, com um sucesso relativo, abafar o rumor da rua.
Ben Ali abandonou ontem (14 de Janeiro) o seu país para refugiar-se na Arábia Saudita. A revolução triunfou. A bem dizer, triunfará realmente quando forem agendadas eleições verdadeiramente democráticas.
E a França nisto tudo? Sim, a França, o antigo colonizador que mantém desde a independência (1956) relações muito estreitas com a Tunísia. Bem, a França, ou melhor dizendo Nicolas Sarkozy e os seus acólitos, remeteu-se ao silêncio, um silêncio ensurdecedor. Silenciosa até hoje… Até aqui o comprometimento com o regime policial tunisino era forçoso, os interesses económicos e estratégicos assegurados. Mas porque haveríamos de ficar surpreendido após as duras críticas feitas ao regime chinês durante a visita de estado de Hu Jintao a Paris, no mês de Novembro do ano passado?! Ben Ali no exílio, o silêncio já não se justifica e o apoio à luta do povo pela democracia e pelas liberdades é assim possível. Aí está, o comunicado do Palácio do Eliseu, residência de Nicolas Sarkozy, acaba de ser divulgado!
Transcrevo aqui parte do artigo do jornal Le Monde, tendo em conta que neste momento o comunicado encontra-se indisponível no endereço electrónico da presidência francesa:
«A França tomou “as disposições necessárias para que os movimentos financeiros suspeitos referentes a fundos tunisinos em França sejam bloqueados administrativamente”, indicou, no sábado, 15 de Janeiro, o presidente Nicolas Sarkozy num comunicado. […]
O ministro do Orçamento, François Baroin, referiu ainda que foram dadas instruções à Tracfin (organismo encarregue de lutar contras o tráfico de capitais) a fim de informar os bancos para que estes “exerçam uma vigilância acrescida sobre todos os movimentos financeiros” que possam respeitar “os fundos da família e dos próximos do antigo presidente Ben Ali”. “Os estabelecimentos deverão informar Tracfin que poderá assim bloquear as operações financeiras e, assim, alertar as instâncias judiciais” acrescentou, referrindo também que se trata de uma medida preventiva. “É possível, provável que haja fundos aqui como um pouco por todo o mundo”, disse François Baroin.
O comunicado do Palácio do Eliseu indica igualmente que Paris “concede um apoio determinado” à “vontade de democracia” do povo tunisino. Esta declaração é a primeira posição clara em prol do movimento de contestação na Tunísia. “A política da França assenta em dois princípios constantes: a não-ingerência nos assuntos internos de um Estado soberano, o apoio à democracia e à liberdade” explicou Nicolas Sarkozy.»[1]
Patético, não?!

Révolution en Tunisie (à suivre)


Oui, une révolution... Une insurrection généralisée de la rue à l’encontre du despote tunisien Ben Ali, président de son pays depuis le "coup d’état constitutionnel" de 1987. Une révolte contre un état policier qui censure, qui oppresse, qui assujettit son peuple…  Une de plus dans l’histoire des Hommes ? Certainement pas, celle-ci est bien différente. Portée par le pouvoir mobilisateur et informateur des nouvelles technologies de l’information, il s’agit d’une révolution via internet et les réseaux sociaux. Selon les propos de l’écrivain et journaliste oppositionniste Taoufik Ben Brick, récemment libéré de prison après six mois d’incarcération (une évidente tentative de le passer sous silence), c’est bien la première révolution réussie via cyberspace. Les élections présidentielles iraniennes de 2009 furent, sans doute, une sorte d’avant-première, mais là le pouvoir central réussi plus ou moins à museler le grondement de la rue.
       Ben Ali a quitté hier (14 janvier) son pays pour se réfugier en Arabie Saoudite. La révolution a bien triomphé. À dire vrai, elle triomphera réellement lorsque des élections véritablement démocratiques seront agencées.
Et la France dans tout ça? Oui, la France, l’ancien colonisateur qui entretient depuis l’indépendance (1956) d’étroites relations avec la Tunisie. Et bien la France, ou plutôt M. Sarkozy et ses acolytes, est silencieuse, d’un silence assourdissant. Silencieuse jusqu’à aujourd’hui… Jusque-là le compromis avec le régime policier en Tunisie était de mise, les intérêts économiques et stratégiques étant sauvegardés. Mais pourquoi s’en étonner après les dures critiques à l’encontre de la Chine lors de la visite officielle de Hu Jintao à Paris, en novembre dernier?! Ben Ali en exil, le silence est rompu et le parti-pris pour la démocratie est maintenant possible… Et bien voilà, le communiqué de l’Élysée vient de tomber!
Je retranscris ici une partie de l’article de Le Monde, vu que pour le moment le communiqué est indisponible sur le site de la présidence:
«La France a pris "les dispositions nécessaires pour que les mouvements financiers suspects concernant des avoirs tunisiens en France soient bloqués administrativement", a indiqué, samedi 15 janvier, le présiden Nicolas Sarkozy dans un communiqué. […]
Le ministre du budget, François Baroin, a précisé sur France Info qu'instruction avait été donnée à Tracfin (organisme chargé de lutter contre le trafic des capitaux) d'informer les banques pour qu'elles "exercent une vigilance renforcée sur tous les mouvements financiers" pouvant concerner "les avoirs de la famille et de l'entourage de l'ancien président Ben Ali". "Ces établissements devront informer Tracfin qui pourra ainsi bloquer les opérations et, le cas échéant, saisir l'autorité judiciaire", a-t-il ajouté précisant qu'il s'agissait d'une mesure "préventive""Il est possible, probable qu'il y ait des avoirs financiers ici comme un peu partout dans le monde", a dit M. Baroin.
Le communiqué de l'Elysée indique également que Paris "apporte un soutien déterminé" à "la volonté de démocratie" du peuple tunisien. Cette déclaration est la première prise de position claire en faveur du mouvement de manifestations en Tunisie. "La politique de la France est fondée sur deux principes constants : la non ingérence dans les affaires intérieures d'un Etat souverain, le soutien à la démocratie et à la liberté", explique M. Sarkozy.»[1]
Pathétique, non?

2011/01/02

La Côte d’Ivoire ou les aléas de la politique

Laurent Gbagbo et Alassane Ouattara (27/11/2010)

Lors du second tour de l’élection présidentielle en Côte d’Ivoire, le 28 novembre dernier, Alassane Ouattara aurait recueilli 54,1% des suffrages exprimés, contre 45,9% pour le président sortant, Laurent Gbagbo, selon la commission électorale indépendante. Mais peu après la proclamation de la victoire du challenger, le président du Conseil constitutionnel, Paul Yao N'Dré, proche de Gbagbo, a invalidé l'élection. Le camp de Laurent Gbagbo avait saisi le Conseil pour faire annuler des votes "frauduleux" dans le nord sous contrôle ex-rebelle depuis 2002, et ainsi être être reconduit à la tête du pays. Cependant, la communauté internationale, ONU, États-Unis et France en tête, reconnait l’élection de Ouattara, ancien premier ministre (1990-1993) et ancien directeur général adjoint du FMI (1994-1999).

Laurent Gbagbo avant sa défaite aux élections présidentielles de 1990 qui l’opposaient à Félix Houphouët-Boigny (in Afrique(s), une autre histoire du 20e siècle, acte 4)

La Côte d’Ivoire se retrouve à nouveau dans une impasse après des décennies d’unipartisme sous la houlette de Félix Houphouët-Boigny. Le pouvoir personnel, autrefois directement visé par Gbagbo quand il faisait partie de l’opposition, sévit une nouvelle fois. Les temps changent, les opinions avec…

A Costa do Marfim ou as vicissitudes da política

 Laurent Gbagbo e Alassane Ouattara (27/11/2010)

          Durante a segunda volta da eleição presidencial na Costa do Marfim, no 28 de Novembro do ano transacto, Alassane Ouattara terá recolhido 54,1% dos sufrágios, contra os 45,9% do presidente em exercício Laurent Gbagbo, segundo a comissão eleitoral independente. Pouco tempo após a proclamação da vitória do candidato da oposição, o presidente do Conselho constitucional, Paul YaoN’Dré, próximo de Gbagbo, invalidou a eleição. O campo de Gbagbo recorrera ao Conselho para conseguir a anulação de votas “fraudulentos” no norte do país, região controlada por ex-rebeldes desde 2002, e assim ser reconduzido no seu cargo. Contudo, a comunidade internacional, encabeçada pela ONU, Estados Unidos e França, reconhece a eleição de Ouattara, antigo primeiro-ministro (1990-1993) e antigo director geral adjunto do FMI (1994-1999).

Laurent Gbagbo antes da derrota nas eleições presidenciais de 1990 que opunham a Félix Houphouët-Boigny (in Afrique(s), une autre histoire du 20e siècle, acte 4)


            A Costa do Marfim encontra-se novamente num impasse após décadas de unipartidarismo sob a égide de Félix Houphouët-Boigny. O poder pessoal, outrora apontado e combatido por Gbagbo quando integrava a oposição, vigora mais uma vez. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades…

2010/12/27

Efeméride: Afeganistão, 27-12-1979 - 27-12-2010

Soldados soviéticos no Afeganistão (1988)

Massoud e os seus mujahidins

        No 27 de Dezembro de 1979, tropas soviéticas invadem o Afeganistão. Durante perto de 10 anos, o país digladia-se com uma guerra que opõe as armadas de Moscovo aos rebeldes afegãos desejosos de derrubar o governo pró-soviético de Cabul. Inserida no contexto da guerra-fria, o conflito opõe, à distância e indirectamente, os blocos ideológicos ocidental e comunista. Secretamente financiados pelos Estados Unidos, via CIA, os mujahidins e o seu chefe incontestado, Ahmed Massoud, oferecem uma viva resistência à ingerência soviética através de uma guerrilha estrategicamente bem planeada. Em 1989, os últimos soldados soviéticos retiram-se, deixando o país frente à iminência de uma guerra civil. Massoud, o leão do Panchir, é rapidamente afastado, nomeadamente através da acção de Washington, dando lugar ao fundamentalismo. O extremismo talibã está pronto a emergir…

Éphéméride: Afghanistan, 27/12/1979 - 27/12/2010

Soldats soviétiques en Afghanistan (1988)

 Massoud et ses moudjahidines

Le 27 décembre 1979, des troupes soviétiques envahissent l'Afghanistan. Pendant près de 10 ans, le pays est déchiré par une guerre qui oppose les armées de Moscou aux rebelles afghans désireux de renverser le gouvernement pro-soviétique de Kaboul. Insérée dans le contexte de la guerre froide, le conflit oppose, à distance et indirectement, les deux blocs idéologique occidental e communiste. Secrètement financés par les États-Unis, via CIA, les moudjahidines et leur chef incontesté, Ahmed Massoud, offrent une intense résistance à l'ingérence soviétique à travers une guérilla stratégiquement bien agencée. En 1989, les derniers soldats soviétiques se retirent, laissant le pays face à l'imminence d'une guerre civile. Massoud, le lion du Panshir, sera rapidement écarté, notamment par le biais des de l’action de Washington, faisant place au fondamentalisme. L'extrémisme taliban est près à émerger...


2010/12/24

Cinéma et censure

Jafar Panahi (Hors-jeu, Ours d'argent, Festival de Berlin, 2006)

Depuis la nuit des temps, l’art est un moyen très efficace de dénonciation, de critique, de promotion, d’éloge ou encore de simples représentations du monde. Le cinéma, depuis son apparition à la fin du XIXème siècle, occupe une place de choix dans ce rôle de sentinelle attentive aux aléas de l’Histoire, aux soubresauts de l’actualité. De La sortie de l’usine Lumière à Lyon, en passant par La guerre du feu, Kagemusha, M le maudit, Spartacus, La dolce vita, Berlin Alexanderplatz, Les raisins de la colère, Full metal jacket, ou encore jusqu’au récent Valse avec Bachir, le cinéma devient le dénonciateur des injustices, de la tyrannie des hommes ou des multiples réalités sociales. Le cinéma dérange aussi, les polémiques sont nombreuses et récurrentes. Je vous salue Marie, La dernière tentation du Christ, Salò ou les 120 journées de Sodome sont quelques films, parmi tant d’autres, qui ont suscité le débat d’idées, la censure et parfois même la violence. Les idéologies politiques ont souvent fait l’objet du travail des plus grands cinéastes et donnent souvent lieu à de vifs débats. Eisenstein, Pasolini ou encore Visconti, communément liés aux idéaux communistes, ont abordé la lutte du prolétariat, les injustices sociales ou la révolution sociale avec beaucoup de justesse. Si le débat est fréquent lorsque certains films abordent des thèmes politiques, sociaux ou religieux, les restrictions que peuvent éventuellement revendiquer certaines tendances plus extrêmes de l’Occident ne sont évidemment pas comparables aux pratiques d’autres sociétés beaucoup moins tolérantes. Le cinéaste iranien Jafar Panahi viens d’être condamné à 6 ans de prison et 20 ans d’interdiction de réalisation, d’interview ainsi que de sortie de son pays. Son appui à la candidature d’opposition de Hossein Moussavi, durant les dernières élections présidentielles de 2009, lui valut déjà une arrestation en mars 2010. Durant son emprisonnement de 88 jours, coïncidant avec le Festival de Cannes où il intégrait le jury, Jafar Panahi entame une grève de la faim en protestation contre les mauvais traitements qu’il subit en prison. On retiendra trois films de Panahi, trois dérangeant pour les acolytes de Ahmadinejad: Le cercle (2000), qui aborde la condition de la femme en Iran et en particulier la prostitution ; Sang et or (2003), qui retrace les difficultés vécues par un vétéran de la guerre Iran-Irak; Hors-jeu (2006), offrant à nouveau une perspective sur la place de la femme dans la société iranienne, ici, à travers des jeunes femmes fan de football à qui l’on interdit l’entrée des stades. La récente histoire de Jafar Panahi n’est pas une nouveauté dans le cadre des relations entre le pouvoir et l’art. Le pouvoir politique s’est toujours montré très attentif aux diverses manifestations artistiques, que ce soit dans un régime totalitaire ou dans une démocratie…

Cinema e censura

Jafar Panahi (Fora de jogo, Urso de prata, Festival de Berlim, 2006)

 Desde os primórdios das civilizações, a arte é um meio muito eficaz de denunciação, de crítica, de promoção, de elogio ou ainda de simples representação do mundo. O cinema, desde a sua aparição nos finais do século XIX, ocupa um lugar de destaque no papel de sentinela atenta às deambulações da História, aos sobressaltos da actualidade. Desde La sortie de l’usine Lumière à Lyon, passando por A guerra do fogo, Kagemusha, M o vampiro de Dusseldorf, Spartacus, La dolce vita, Berlin Alexanderplatz, As vinhas da ira, Full metal jacket, ou ainda até ao recente Valsa com Bachir, o cinema torna-se denunciador das injustiças, da tirania dos homens ou das múltiplas realidades sociais. O cinema incomoda também, as polémicas são numerosas e recorrentes. Eu vos saudo, Maria, A última tentação de Cristo, Salò ou os 120 dias de Sodoma são alguns dos filmes que suscitaram um intenso debate de ideias, a censura também, e por vezes até a violência. As ideologias políticas foram frequentemente o alvo do trabalho do cineasta, gerando vivos e por vezes apaixonados debates. Eisenstein, Pasolini ou ainda Visconti, ligados às ideologias comunistas, abordaram a luta do proletariado, as injustiças sociais ou a revolução social com muita pertinência. Se o debate é frequente quando são abordados as temáticas políticas, sociais ou religiosas, as restrições eventualmente reivindicadas por tendências mais extremas do Ocidente não se podem comparar às práticas de outras sociedades muito menos tolerantes. O cineasta iraniano Jafar Panahi acaba de ser condenado a 6 anos de prisão e 20 anos de interdição de realizar filmes, de conceder entrevistas assim como sair do seu país. O apoio dado à candidatura oposicionista de Moussavi, durante as últimas eleições presidenciais de 2009, está na origem do seu aprisionamento em Março deste ano. Durante a sua estadia nos cárceres iranianos, a qual coincide com o Festival de Cannes onde iria integrar o júri, Jafar Panahi inicia uma greve da fome como forma de protesto contra os maus-tratos de que é alvo na prisão. Da filmografia de Panahi são de destacar três filmes, três filmes incómodos para os acólitos de Ahmadinejad: O círculo (2000), que aborda a condição da mulher no Irão e em particular a prostituição ; Ouro e carmim (2003), que relata as dificuldades vividas por um veterano da guerra Irão-Iraque; Fora de jogo (2006), oferecendo novamente uma perspectiva sobre o lugar da mulher na sociedade iraniana, aqui, através de jovens mulheres adeptas de futebol mas a quem está proibida a entrada nos estádios. A recente história de Jafar Panahi não é inovadora no que se refere às relações entre o poder e a arte. O poder político mostrou-se sempre muito atento às manifestações artísticas, seja no âmbito de um regime totalitário, seja numa democracia…